A Circolando – Espaço de Criação Transdisciplinar faz parte da InResidence, uma plataforma que aproxima artistas a oportunidades de trabalho, na área de artes visuais e demais disciplinas artísticas, em espaços da cidade do Porto. No âmbito desta parceira com a Câmara Municipal do Porto, atribuímos todos os anos uma bolsa Inresidence de 4.000€-6.000€ para uma residência de média duração a um artista / colectivo.
No âmbito do programa Inresidence, apresentamos os projetos realizados em anos anteriores:
2025 | ATENTAMENTE, UMBRALES, Varinia Canto Vila (CL)
Atentamente, Umbrales é uma investigação coreográfica em estágio inicial, que surge a partir de práticas exploradas em processos criativos anteriores — todas impulsionadas por uma pergunta persistente: E agora, onde estamos? O projeto se articula em torno do conceito de limiar, entendido como uma passagem entre mundos, estados ou dimensões, que se desdobra tanto no campo espacial quanto no sociopolítico. Durante a residência na Central Elétrica, Varinia Canto Vila avançou com uma outra abordagem, colocando no espaço de trabalho as perguntas que impulsionaram suas três últimas criações, assim como algumas palavras que a ajudaram a pensar formas de dançar. Um espaço que se possa transformar num dispositivo que a permita atravessar estados e danças que se aceleram, como roupas no tambor da máquina de lavar no programa de centrifugação… enquanto se perde olhando para esse presente insistente e ofuscante.
Varinia Canto Vila (Santiago do Chile) é bailarina, coreógrafa e investigadora. Recentemente, a sua prática criativa tem-se desenvolvido a partir da relação entre arte e política: em 2016 iniciou um projeto de investigação sobre a relação entre lei e movimento; em 2023 criou a peça cénica Maneras de Salir, que aborda as distâncias e proximidades entre pessoas e as suas realidades socioeconómicas e políticas; e em 2024 desenvolveu MUNDOS, com base na noção de sociedade fragmentada. Trabalhou como bailarina com Meg Stuart, Moriah Evans, Las Delíricas e Javiera Peón-Veira, entre outros. É gestora e programadora da Noche de Performance no Chile.
2024 | Ayiti, a Montanha que Assombrou o Mundo, Marconi Bispo (ARG)
Ayiti, a Montanha que Assombrou o Mundo celebra os 220 anos da Revolução Haitiana, um dos eventos mais marcantes no derrube do colonialismo nas Américas, ainda que tenha vindo a ser constantemente ocultado e minizado, apagando deste modo as lutas destes povos e substimando o seu impacto. Em residência na Central durante novembro, o projeto de Marconi Bispo procura reparar essa invisibilização, destacando a importância do Vodu Haitiano, cujas práticas litúrgicas exaltam heróis revolucionários. A comparação com as religiões afro-brasileiras evidencia a importância da ancestralidade na resistência e luta pela liberdade.
Marconi Bispo [Awofá Ifáwalé Mojìre Omikemi Awololá] possui graduação pela Universidade Federal de Pernambuco no Curso de Licenciatura em Educação Artística/habilitação em Artes Cênicas [1999]. Em 2024 completou 29 anos de atividades profissionais nas artes da cena, tendo trabalhado com importantes companhias e diretores/as do estado de Pernambuco. Tem pesquisado Relações Raciais em Pernambuco — do século XVI aos nossos dias —, com profundo interesse pela construção de demarcadores de gênero dentro das religiões de matriz africana e indígena, da qual é um Sacerdote iniciado para Ìyémọjá e Ọbàlùfọ̀n [2004] e Ọrúnmìlà Bàbá Ifá [2023]. Tem também ramificações na Jurema Sagrada. Criado numa família de candomblecistas, vivendo Terreiros desde muito cedo, Marconi Bispo hoje busca a amálgama entre sua formação a partir da Universidade e a Religião de Matriz Afro e Indígena.
2022 | MENTIRAS APLAUDIDAS, PANAIBRA GABRIEL CANDA (MZ)
“Mentiras aplaudidas” deseja refletir sobre o mundo de hoje onde as “fake news” fazem parte desse jogo de verdade e inverdade, esse jogo de manipulação. Neste trabalho de pesquisa, pretendo iniciar um processo que irá mergulhar num diálogo com o mundo em que vivemos hoje para encontrar o sujeito na sua essência, dentro e fora da manipulação. Pretendo levar o espectador a uma viagem pelos temas urgentes de hoje com os seus choques de civilização, crenças políticas e ideológicas, medos, incertezas… Esta obra estreará em novembro deste ano no festival euro-scene Leipzig, na Alemanha.
Panaibra Gabriel Canda, nascido em Maputo, Moçambique, é um dos coreógrafos africanos mais influentes e reflecte as convulsões pós-coloniais do país de forma tão ambígua como nenhuma outra. Nas suas inúmeras participações em festivais europeus, é sempre lembrado que a dança intelectualmente fundamentada não precisa necessariamente ser chata, mas pode ser dinâmica e bem-humorada. Os famosos Solos Marrabenta de Panaibra são um antídoto eficaz para a triste dança conceitual de estilo ocidental.
2020 | CAMPECHE, LAGARTIJAS TIRADAS AL SOL (MX)
“Entre diciembre de 2020 y enero de 2021 participé en el programa Inresidence convocado por Circolando. La residencia consiste en tener tiempo y espacio en la ciudad de Porto para desarrollar un proyecto. Fui con la idea de desarrollar un proyecto de Lagartijas tiradas al sol llamado “Campeche”, este proyecto de piratas poco a poco fue cediendo espacio a otros durante mis días en Porto. Poco a poco la residencia se fue volviendo un espacio para trabajar sobre mis planteamientos artísticos en relación a la ficción, poco a poco la ciudad se me fue mostrando desde una perspectiva misteriosa y extraña.” Lázaro Gabino Rodriguez / Lagartijas Tiradas al Sol
O resultado destes dois meses de residência artística em nossa Central Elétrica é um conjunto de ficcções intituladas: Ponte do infante, Clase de apreciación cinematográfica, Não sei quantas almas tenho, Caída de Máscara, perdida de rostro e Fui a busca el lugar en el que el río se junta con el mar.
Lagartijas Tiradas al Sol auto-intitulam-se como uma “quadrilha” de artistas. Trabalham em cena, fazem livros, rádio, vídeo e processos educativos. A partir de 2003 passam a desenvolver projectos como mecanismo de articulação entre trabalho e vida, para apagar ou traçar fronteiras. O trabalho busca criar narrativas sobre acontecimentos da realidade. Não tem nada a ver com entretenimento, é um espaço para pensar, articular, deslocar e desvendar o que a vida cotidiana funde, descobre e nos apresenta como dado.
2018 | OS BONS COLONIZADORES, PEDRO VILELA (BR)
O ponto de partida para o projecto veio da leitura de um artigo de jornal onde se sistematizam várias abordagens ao colonialismo, de ambas as partes, Portugal e Brasil. O desafio seria: como transformar todas estas questões em obra artística? Como retomar a história para compreendermos o presente?
Debruçado sobre documentos históricos, o artista brasileiro dedicou-se a procurar material que proporcionasse narrativas em torno do processo de colonização dos povos indígenas, trazendo questionamentos sobre como subverter as representações estigmatizadas e ao mesmo tempo refletindo sobre as auto-representações actuais desses povos, cada vez mais visíveis e plurais. Na reta final, contou com a participação da artista Andrezza Alves como performer.
2023 | WAYQEYCUNA, Tiziano Cruz (ARG)
Wayqeycuna é um projeto que explora a experiência de ser um migrante no seu próprio território, centrando-se na memória coletiva de Jujuy, Argentina, e desafiando narrativas de branqueamento e poder. Na mistura entre teatro e performance cénica, Tiziano Cruz reflete sobre questões contemporâneas das políticas migratórias e injustiças sociais, com esta residência no Porto a marcar o encerramento da trilogia “Três maneiras de cantar a uma montanha e encontrar uma infância”, com seis anos de pesquisa e escrita.
Tiziano Cruz nasceu em Jujuy (Argentina). Artista interdisciplinar, o seu trabalho reúne fundamentalmente as linguagens visual e teatral, a performance e a intervenção artística no espaço público. A partir de uma seleção de marcas autobiográficas, compõe narrativas cénias, invocando a memória do corpo e a potência da sua ancestralidade andina. Tiziano completou os seus estudos em Administração, Artes Visuais, Artes Cénicas e Gestão Cultural nas Universidades de Tucumán e de Córdoba, frequentando atualmente o Mestrado em Cultura Pública na Universidade Nacional das Artes. É fundador da Plataforma de Gestão Cultural ULMUS, dedicada à mediação cultural entre diferentes organizações culturais da Argentina e países vizinhos, sendo atualmente Coordenador da Área de Mediação de Públicos do Centro Cultural Recoleta em Buenos Aires. As suas obras já percorreram a Argentina, Brasil, Canadá, México, Suíça e Espanha.
2021 | CONDUÇÃO ÓSSEA, ALEJANDRO AHMED (BR)
Para o ano de 2021 o projecto seleccionado é CONDUÇÃO ÓSSEA, de Alejandro Ahmed. Uma residência sobre transdução e alteridade, pautada pela investigação da relação física/digital entre condutores táteis, microfones de contato, voz, luz, palavra e movimentos, atravessados por surdez e fragilidade óssea. Condução Óssea propõe a criação de um objeto coreográfico que tensione a ficção para acessar outras políticas de construções de realidade.
Alejandro Ahmed é coreógrafo e diretor artístico do Cena 11 Cia. de Dança (Santa Catarina – Brasil). Seu campo de interesse está situado em novas definições para o conceito de coreografia, reflectindo sobre termos como situação coreográfica, coreografia imaterial e dança generativa, presentes em 17 obras criadas entre 1994 e 2018.
2019 | MÁQUINA ÊXTASE, MAIKON K. (BR)
Ritos, imagens, objetos e substâncias que estão ligados à ideia de atingir o êxtase e a possibilidade de transformá-los em material de performance. Ao longo da sua residência, Maikon K buscou modos de gerar/acessar fluxos de êxtase no corpo, por meio de respiração, movimento, vocalização, encenação e relação com materiais, partindo de algumas questões: O que é o êxtase? Como construir um corpo-organismo para performar o êxtase?
O êxtase pesquisado enquanto forma primitiva (que tem a sua origem em danças xamânicas e ritos iniciáticos) até a sua localização nas práticas sociais contemporâneas (tecnologias digitais, universo das raves, drogas, mercado do sexo e da moda, desportos perigosos, atividades físicas, religiões, música pop, movimentos de massa, etc.). Do corpo social ao corpo anárquico.
2017 | LOA, DEMO (PT)
LOA (também soletrado lwa) são os espíritos do Voudou haitiano e do Louisiana Voodoo. São também referidos como “mystères” e “os invisíveis”, intermediários entre Bondye (francês: Bon Dieu, que significa “Deus bom”) – o Criador Supremo, que está distante do mundo – e a humanidade.
Nesta proposta de residência, Gil Mac e Cláudio Vidal, performers do colectivo vimaranense DEMO (Dispositivo Experimental Multidisciplinar e Orgânico), juntaram-se ao compositor e artista sonoro Tiago Ângelo e ao realizador e antropólogo Gonçalo Mota para lançarem um projecto que se propôs trabalhar no cruzamento do teatro físico com as tecnologias interactivas, a arte sonora e o vídeo experimental, a partir do trabalho da realizadora, coreógrafa, bailarina e escritora Maya Deren, autora do ensaio Religious Possession in Dancing, dedicado ao estudo do Vodu Haitiano.