Circolando – Central Elétrica
4, 5 e 6 outubro 2024
São Pedro de Azevedo, Campanhã, Porto
Entrada Livre
Nos dias 4, 5 e 6 de outubro, em vários locais de São Pedro de Azevedo, lugar periférico da freguesia de Campanhã, no Porto, a Circolando – Central Elétrica realizou a 2ª edição do Ciclo Território, um programa que se dedica à criação artística em diálogo com os lugares e comunidades vizinhas da Central. Num desejo de aproximação da arte à vida e à antropologia, as práticas artísticas de contexto foram o núcleo do programa, que incluiu vários projetos a estrear, tanto no âmbito das artes performativas, como do cine-concerto e artes visuais. O encontro e o convívio foram outros dos ingredientes centrais do ciclo, com vários momentos de conversa, petiscos e festa prometida com os concertos de Dona Arménia e Marante.
“O real precisa de poucas palavras” é um verso do manifesto de Raymond Duncan sobre o poder do pequeno gesto, a força e grandeza das micro-ações quotidianas. O legado deste artista e pensador, irmão da célebre Isadora Duncan, esteve entre as referências do PLANT – Performing Life Akademia Network, um programa transdisciplinar, financiado pelo Europa Criativa, de que a Circolando – Central Elétrica é líder e coordenadora. Projeto a dois anos, e já na sua reta final, o PLANT resulta da colaboração com outros dois centros de criação – Duncan Dance Research Center da Grécia e Espai nyamnyam de Espanha -, e teve neste 1º fim de semana de outubro um dos seus momentos altos.
No âmbito deste programa europeu, a Circolando – Central Elétrica desenvolveu, em parceria com o arquiteto Roberto Cremascoli e a Escola Superior de Artes e Design, o projeto Espaço Comum, um lugar de encontro e partilha de saberes que instalou no Largo de São Pedro de Azevedo, e vem ativando desde a Primavera. Durante o Ciclo Território, o Espaço Comum será o principal lugar de encontro, o centro de um mapa diversificado de espaços de apresentação, o local onde inicia cada um dos dias de atividades.
Com o Ciclo Território, procuramos traçar caminhos em busca de uma arte entrosada com o local, incentivando a experimentação no âmbito de projetos artísticos que se alimentam dos discursos, das vivências, das memórias, humanas e não humanas, que encontram no lugar.
PROGRAMA
04 Outubro
18h30: Abertura – Apresentação PLANT, no Espaço Comum, Largo de São Pedro
19h30: filme-performance OMEN, de Rosanayaris e nyamnyam em colaboração com Julie Loi, Estel Boada, Daniel Moreno Roldán e Pedro Vilela, no Jardim Lumi
20h30: Petiscos e Porco no Espeto, no Pavilhão do Vitória
22h00: Concertos com Dona Arménia e Marante, no Pavilhão do Vitória
05 Outubro
12h00: passeio-performance LUGAR X, de Catarina Vieira, no Espaço Comum, Largo de São Pedro
17h00: passeio-performance MONUMENTUM – O MOMENTUM DE UM MONUMENTO EFÉMERO, de Aris Papadopoulos, Dora Zoumpa e Vasilis Ntouros, no Espaço Comum, Largo de São Pedro
19h30: MUDANÇA DO TEMPLO, de Esther Rodriguez-Barbero, no Pavilhão do Vitória
20h30: Jantar, no Espaço Comum, no Largo de São Pedro
21h30: filme TORTO, de André Braga, Cláudia Figueiredo, Gonçalo Mota e Nuno Preto, no Espaço Comum, Largo de São Pedro
22h00: Performance-concerto FOTOMEMÓRIA, de Tânia Dinis e João Sarnadas, Os Iniciadores
06 Outubro
12h00: Passeio performance, LUGAR X, de Catarina Vieira, Espaço Comum, Largo de São Pedro
13h00: Almoço-partilha de receitas, R/ESPIGAR, Rebecca Moradalizadeh, Espaço Comum, Largo de São Pedro
15h30: OFERENDA, de Esther-Rodriguez Barbero, no Espaço Comum, Largo de São Pedro
04, 05 e 06 Setembro
Instalação R/Espigar, de Rebecca Moradalizadeh, Sede Associação Branco E Negro
O Fio Condutor – Ciclo Território 2024 é financiado pela União Europeia – Europa Criativa, através do projecto PLANT.
Em abril de 2021, os artistas Rosanayaris e nyamnyam refizeram a viagem seguindo o percurso original que a família Duncan fez em 1903 para viajar por mar desde a Itália até à Grécia; esta viagem está descrita no livro “A minha vida” escrito por Isadora Duncan (irmã de Raymond Duncan). O objetivo era revisitar a figura de Raymond e descobrir experiencialmente a sua forma de pensar. A família Duncan viajou guiada pela história antiga de Odisseu e pelos ideais que rodeavam a cultura grega antiga. No seu caso, os artistas viajaram enquanto liam e “incorporavam” a vida e as ideias de Raymond. OMEN é uma oportunidade para redescobrir a figura de Raymond Duncan, em diálogo com as histórias recolhidas durante a investigação deste projeto, ao longo dos últimos três anos.
OMEN está estruturado em 25 rapsódias, seguindo os passos da viagem original da família Duncan de Brindisi a Atenas, justapondo passagens da Odisseia de Homero, o oráculo das runas, o mapa astral de Raymond Duncan ou partes de uma entrevista de 1955 de Orson Wells a Raymond. A maioria dos vídeos é captada durante a viagem de duas semanas que rosanayaris e nyamnyam fizeram em 2021, acompanhadas pelos filhos de Ariadna e Iñaki: Gal·la e Juls, também participantes nas gravações. A edição do filme começou um ano depois e contou com a participação de Julie Loi como Isadora Duncan e o oráculo, com Estel Boada como Homero e Daniel Moreno Roldán pela música.
A Dona Arménia é a vizinha da frente do arménio. Tem um nome longínquo e não tem a noção do vínculo que a liga ao oriente. Uma vénia à Dona Arménia. É que é importante manter as boas relações de vizinhança.
Um concerto cantado e tocado tu cá, tu lá.
António Luis Cortez Marante, amplamente conhecido como Marante, é uma figura incontornável na paisagem musical popular portuguesa. Nascido em Barqueiros, em 1948, a sua vida é um entrelaçar de melodias típicas e histórias pessoais que o posicionam como um verdadeiro emblema da cultura nacional. Teve o sonho do futebol mas foi na música que ficou conhecido. Em 1980 criou o grupo “Diapasão” que eternizou a música “A Bela Portuguesa”.
Lugar X é uma criação para o espaço público sobre os mecanismos de extração de valor dos corpos, dos ecossistemas, da vida e das relações. O extrativismo marca com um X marca o lugar do tesouro. Neste momento, já nenhum lugar, corpo, ou forma de vida escapa à marcação. Pretendo criar mapas ficcionais dos lugares onde não queremos ou onde não podemos voltar, porque não há tesouro para extrair, nem prazer para descobrir. E, ao mesmo tempo, investigar gestos para permanecermos vivos, apesar da, e na, devastação. Como se cria corpo das ruínas?
No lugar que deixamos para trás, abrimos um buraco e escavamos. A terra chama-nos. Viemos visitar uma amante, a nossa própria terra exangue. É sempre possível abrir um buraco. Romper o cimento e o esquecimento. Escavar vários horizontes e aproximar a escuta do solo. Abrimos um buraco e conversamos com a pele desse vazio. Uma meditação colectiva, onde as mãos traçam caminhos para memórias e gestos impossíveis.
O que seria hoje um contramonumento contemporâneo? Como desafiaria a autoridade, a criação de memória e a permanência? Qual seria a sua forma, funções, materialidade e duração de vida?
Monumentum é um projeto colaborativo focado no desenvolvimento de um protótipo de prática contextual e sonhado em comunidade para pensar e agir em relação a tais contra-monumentos.
Utilizando a técnica do muro de pedra seca como metáfora e estrutura, o projeto integra sonhos, desejos e memórias coletivas com as texturas do lugar, da ficção e da comunidade. Através desta abordagem, o colectivo procura descobrir as ligações invisíveis entre o artesanato, o trabalho, as tensões sociais e as aspirações para o futuro.
Quando não é utilizada qualquer “argamassa”, quais são as forças que mantêm unida uma comunidade, uma colaboração, um muro, uma prática quotidiana? Como é que estas forças e relações são expressas ou corporizadas e que tipo de aspetos performativos surgem da relação entre monumento e ruína?
Mudança do Templo é a construção de um espaço sagrado. A dance para os e-espíritos, uma carta para um lugar em transição, um cântico para os vivos. É um santuário onde podemos conhecer as águas da sabedoria. É um convite a viajar por espaços infinitos.
Mudança do Templo é parte do projeto de investigação TEKNETOOLBOX, que estuda a relação entre ruínas, lugares sagrados e as tecnologias do corpo e espaço associadas para estabelecer uma relação com o que nos rodeia. Todas as células do corpo imersas no acto, tão profundas que, na verdade, o observador, o objeto e o medium tornam-se um. O projeto foca-se nos ciclos de colapso e regeneração de corpos e lugares, quando algo deixa de ser o que é e se torna algo diferente, algo ainda desconhecido. O momento em estão latentes uma multiplicidade de possibilidades.
Antes chamado “ribulum campania”, rio de Campanhã, o Torto é um pequeno afluente do rio Douro que permanece muito esquecido. Com pouco mais de 12 km, nasce na Serra de Valongo e vem desaguar junto ao Freixo, contornando os territórios de Azevedo e São Pedro. Conhecido pelos vizinhos como “o ribeiro”, nos dias de chuva, ainda consegue surpreender com a sua força.
“A água anónima sabe todos os segredos”.
Numa breve residência no final de 2023, seguimos-lhe o curso em busca das histórias, das memórias, das vidas que habitam nas suas margens.
Tendo Azevedo Campanhã como área geográfica de intervenção, FOTOMEMÓRIA resulta de uma residência artística no formato de performance sonora e visual que parte de coleções de imagens domésticas e de associações locais : observar, escutar e interrogar reflectindo sobre a forma como se relacionam com a memória e vivências dos lugares.
Lugar X é uma criação para o espaço público sobre os mecanismos de extração de valor dos corpos, dos ecossistemas, da vida e das relações. O extrativismo marca com um X marca o lugar do tesouro. Neste momento, já nenhum lugar, corpo, ou forma de vida escapa à marcação. Pretendo criar mapas ficcionais dos lugares onde não queremos ou onde não podemos voltar, porque não há tesouro para extrair, nem prazer para descobrir. E, ao mesmo tempo, investigar gestos para permanecermos vivos, apesar da, e na, devastação. Como se cria corpo das ruínas?
No lugar que deixamos para trás, abrimos um buraco e escavamos. A terra chama-nos. Viemos visitar uma amante, a nossa própria terra exangue. É sempre possível abrir um buraco. Romper o cimento e o esquecimento. Escavar vários horizontes e aproximar a escuta do solo. Abrimos um buraco e conversamos com a pele desse vazio. Uma meditação colectiva, onde as mãos traçam caminhos para memórias e gestos impossíveis.
R/espigar é um projeto em torno da comida, da alimentação e das receitas que se mantêm nos sentidos ou que se formam sobre a mesa. Ao longo de dois anos respigaram-se, recolheram-se e cruzaram-se paladares, cheiros, memórias, modos de fazer e variadíssimas experiências através de entrevistas e convívios com a comunidade de Campanhã, desde a Formiga a S. Pedro de Azevedo.
A recolha afetiva deste longo percurso culmina agora numa instalação quase arquivística – onde se realçam os saberes e a efemeridade dos gestos através da palavra falada, da imagem em movimento, da fotografia e de vestígios – assim como num novo encontro coletivo para ativar, partilhar e trocar as receitas e experiências até então recolhidas.
Querido lugar,
Tenho-te observado já por um tempo. Sei que guardas um mistério que temos que desvendar. Sei que passaste por alguns desafios ultimamente, que as coisas já não são como eram. Apareceram algumas mudanças que te fizeram pareceram e sentir diferente. Ainda assim, um horizonte foi desenhado e ainda está para ser cumprido. OFRENDA convida-te a prestar tributo a um lugar em transição. A construir uma memória coletiva feita de histórias, danças, gestos, palavras e qualquer outra coisa material ou imaterial que o fez ser o que é hoje. E, através deste acto, ouvir em conjunto as possibilidades que são desenhadas no horizonte.